Vídeo tenta explicar como funciona o sistema de comunicação (rádio e televisão) no Brasil
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A espera frustrada: Dilma retira democratização das comunicações da plataforma de campanha presidencial
Um sentimento de frustração acometeu defensores de uma mídia mais
democrática nas últimas semanas, após a veiculação na imprensa nacional
da notícia que apontava a silenciosa retirada da pauta da comunicação da
plataforma de campanha da Presidenta e candidata à reeleição Dilma
Rousseff. A única proposta que diz
respeito ao setor cita a ampliação do acesso à internet e acaba por
construir a falsa ideia de que a rede seria capaz de sanar sozinha as
necessidades de liberdade de expressão e comunicação da população. Mesmo
após intensos debates internos, o programa de governo intitulado “Mais
mudanças, mais futuros” simplesmente não lista, dentre suas prioridades,
mudanças em um setor estratégico para o desenvolvimento cultural,
econômico e social brasileiro.
Há muito, a sociedade civil
aponta a necessidade de uma comunicação mais diversa e plural no Brasil;
de regras para impedir monopólios e oligopólios no setor (como ocorre
em vários países do mundo); do fortalecimento de veículos públicos e
comunitários; do estímulo à produção regional, independente e
alternativa; de transparência no trato da concessão e renovação das
outorgas de rádio e TV; da prestação de serviços de telecomunicações
acessíveis e de qualidade; e da participação de representações da
sociedade na elaboração e acompanhamento das políticas públicas desta
área (como há na saúde, educação, moradia e assistência social, por
exemplo).
Esse desejo se expressou nas mais de 600 propostas
aprovadas, ainda em 2009, pela I Conferência Nacional de Comunicação,
após debates que envolveram mais de 30 mil pessoas em todo o país. Mas,
desde então, essas recomendações nunca foram seriamente levadas em
consideração pelo governo federal – diferentemente do que fizeram vários
vizinhos nossos na América Latina, como Argentina, México, Uruguai e
Equador, que recentemente reformaram seus sistemas de comunicação
visando democratizá-los. Apesar de, no último ano do governo Lula, ter
sido criado um Grupo de Trabalho para formular uma minuta de nova
legislação para a área, o trabalho foi repassado à gestão Dilma e não
avançou.
Não se pode dizer que foi por falta de
sugestões. Entidades da sociedade civil organizadas em torno do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação e da Campanha Para Expressar
a Liberdade optaram por traduzir as deliberações da Conferência em uma
proposta concreta: nasceu o Projeto de Iniciativa Popular da Lei da
Mídia Democrática (íntegra disponível em paraexpressaraliberdade.org.br).
Mais uma vez, a gestão Dilma Rousseff não se mostrou receptiva à
agenda. A espera, agora frustrada, era que isso ocorresse em um eventual
segundo mandato da Presidenta.
Perguntamo-nos, então, que
tamanha pressão exercem os grandes grupos de comunicação do país sobre o
governo federal a ponto de silenciar o debate público sobre o tema,
reiteradamente barrar qualquer tentativa de avanço possível no Congresso
Nacional e, agora, levar uma candidatura presidencial a retirar do seu
programa de propostas uma questão historicamente reivindicada pela
sociedade civil brasileira e já enfrentada por tantos países?
Acreditamos que ainda é tempo da campanha de Dilma Rousseff reverter a
retirada e acolher as propostas feitas no âmbito do projeto da Lei da
Mídia Democrática. Para uma candidatura que prega “mais mudanças”,
enfrentar o tema, seja nas eleições ou em um eventual segundo mandato, é
tarefa urgente. Afinal, sem diversidade na mídia e sem um ambiente
democrático de debate público, transformações que assegurem mais
direitos à população ficarão cada vez mais difíceis.
E, como
não vivemos de espera, entendemos que tal fato somente reafirma a
importância estratégica da nossa pauta, conclama o movimento a organizar
ainda mais a luta pelo direito à comunicação e a seguir em frente na
busca de construir um país onde todos/as tenham voz e se sintam
representados/as nos meios de comunicação.
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
11 de julho de 2014.